Têm dias em que, deitados sobre as paredes da memória, relemos nestes murais, antigas cartas que a hora da vida não corrói, nem os olhos, mesmo fechados nunca deixam de contemplar.
Enxergamos um sorriso que se desenhou lá na imaturidade, na ingenuidade dos atos, na imortalidade daqueles atos. E este sorriso desenhado não se traduz nas palavras escritas nas cartas, nem se reduz na distância entre o mesmo e as próprias cartas, antes, perdura na contemplação de uma imagem estática ao passo que se movimenta, na reflexão mais profunda de palavras aparentemente mortificadas, mas que em sua essência guarda a essência do que hoje somos, ou do que hoje supomos que seja o nosso ser.
E o que seríamos? Sem estas
doces sementes o que seríamos?
Percorreríamos florestas
infestadas de sombras mortas.
Tropeçaríamos sem mesmo notar
que aquele obstáculo nada mais
era que o nosso desejo de ser
mais que o próprio Mistério.
De ser mais que o que precisamos.
De ser mais, apenas ser mais.
E nesses dias, onde repousamos a cabeça sobre o vasto campo das memórias, recobramos as atitudes que hoje tomamos. Não sorriríamos sem que sorrir não nos fosse agradável e não seria agradável sorrir se em nosso ser não houvesse um afago especial, construído desde o momento primeiro dos desejos e aspirações. Até a paz que nos parece possível nos foi plantada numa placenta. Assim como a sua inexistência fora formada ao romper de luzes e mundos até então estranhos a nós. E toda estrada proposta nos é hoje o que somos, ou que supomos que seja o nosso ser.
E o que seríamos? O que seríamos
se em nosso campo a terra fosse dura?
E não abraçasse o germinar de uma vida
que cresce e se torna uma floresta iluminada.
Porque é aí onde se esconde o equilíbrio
necessário para estarmos vivos, até
que venha o que é Perfeito.
19. X. 08. Feira de Santana, Ba.
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