quarta-feira, 26 de novembro de 2008

AUTO-RETRATO


Nem sei mesmo o que pensar sobre isso.

Sei que encarar-me é tão perigoso quanto parece.

Porque há noites em que os leões saltam

e invadem os lençóis de minhas idéias

e é preciso ser mais alto para sobrepujar

ou mais baixo para nem ser notado.

Mas prefiro estar ao centro:

cara a cara, olho por olho,

idéia por idéia.


E pela manhã,

onde o mar bate nas nuvens,

não há leões, nem mesmo os seus cadáveres,

nem mesmo o eu que costumava enxergar.

Há, sobretudo, o eu que houve, há e haverá,

como aquele orvalho sorrindo em minhas mãos:

este beijo dizendo que o céu é mais bonito

quando é dia, pra que a lua e as estrelas existam

e quando é noite, para que o sol, as nuvens, tudo,

tudo seja mais essencial, mais verdadeiro.


E Tu, ó Estrela Celeste,

habitas em mim,

sendo o que sei que sou

e não seria sem que fosses o que és.

E caminhar por Tuas brisas faz-me ver a vida

como ela é: dotada de esperanças;

de gotas dos mares fosforescentes que estão a cima de nós:

e não sou mais eu este eu.

Sou eu dotado de Ti.

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