sábado, 14 de junho de 2008

O ENTERRO DO NEGRO

Chove, aos pomposos, guarda-chuvas

negros.

Uma marcha fúnebre encaminha o

cortejo.


No caixão garboso, meu corpo

negro.

O peito parado nas mãos postas,

nele.


E o cortejo chorando a morte

do negro.

Duas mãos sustentam o meu caixão à ala

esquerda;

outros à ala direita, à frente, meu irmão

negro.


E a marcha fúnebre levando o

cortejo.
Minha mãe coitada, o corpo todo

negro.


Os lábios trêmulos, os olhos vermelhos

e estreitos.

– Não chora, mãe, afinal é só mais um

negro!.


Quanta multidão de ninguém no meu

enterro.

Uns passos lentos, uns cochichos velam

o negro.

O céu derramando seus pêsames ao meu

enterro negro.


05/ 06/ 08

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