sábado, 14 de junho de 2008

O ENTERRO DO NEGRO

Chove, aos pomposos, guarda-chuvas

negros.

Uma marcha fúnebre encaminha o

cortejo.


No caixão garboso, meu corpo

negro.

O peito parado nas mãos postas,

nele.


E o cortejo chorando a morte

do negro.

Duas mãos sustentam o meu caixão à ala

esquerda;

outros à ala direita, à frente, meu irmão

negro.


E a marcha fúnebre levando o

cortejo.
Minha mãe coitada, o corpo todo

negro.


Os lábios trêmulos, os olhos vermelhos

e estreitos.

– Não chora, mãe, afinal é só mais um

negro!.


Quanta multidão de ninguém no meu

enterro.

Uns passos lentos, uns cochichos velam

o negro.

O céu derramando seus pêsames ao meu

enterro negro.


05/ 06/ 08

Horizontes

Meu horizonte tem um verde azul cristal.

Tem um sol vivo sobre luzes de um espelho.

Uns olhos tenros outros ávidos vermelhos.

E uma alma cândida pueril de fogo e sal.


Meu horizonte tem um monte divinal.

De sons de anjos e asas auras e anseios.

Lá bem longe além muito além um devaneio:

um beijo ingênuo de uma aurora boreal.


Deito-me inspirativo às línguas de estremes

bálsamos - sonhos juvenis e langorosos.

E navego, navego em naus de imanes lemes.


E olho o meu horizonte como alguém que geme

mirando um mar constantemente nebuloso.

E caminho, caminho, ando inerte e sempre...


8 de junho de 2008

INSTANTES



Todos os dias, vivo o agora

como se o fora desde sempre.


O amanhã é uma memória

tão imprecisa quanto ausente.


Bom seria se a cada instante

um riso invadisse minha face


e a cada segundo, ao semblante

obscuro, um brilho adentrasse.


Se a cada instante, por menor

que seja, a alma fosse um mar


maior que o céu e, todo o sol,

um brilho contido em um só olhar.


Ah! Todos os dias passarão...

Como os ribeiros, toda a vida


deslizará por entre as mãos

ainda lisas... Divididas...?


E o tempo vagante a roer

cada semblante, cada olhar...


e olhamos, em volta do rio,

as pedras a secas ao ocaso,


e ao rosto, o pleno desvario.

11 de junho de 08 e sempre, sempre...